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Música, divulgações, diversões, meio ambiente, cultura, divagações e boas conversas. Não necessariamente nessa ordem :-)

terça-feira, 5 de julho de 2016

Deco e o Dr. Oswaldo

Esse texto foi escrito em 2007, mas nunca mostrei pra ninguém. Hoje soube que Dr. Oswaldo faria 84 anos e resolvi que era hora de contar essa história. 
Deco, é pra você!


DECO E O DR. OSWALDO

São incríveis as teias que a vida tece e os encontros que ela nos proporciona ao longo do percurso. Vivo cercada de grandes coincidências, por exemplo, que me deixam sempre de boca aberta e com a absoluta certeza de que nada nesse mundo é por acaso.

Conheci Deco Fiori há quatorze anos, quando entrei no grupo vocal Maite-Tchu. Ele, Symô, Cacala e Magda Belotti, ao lado de Fred Biasotto e Antonio Carlos Lobo, os arranjadores, procuravam a soprano que pudesse ocupar a vaga que Aline Cabral acabara de deixar, por ter aceito o convite para participar do grupo Be Happy.

Não vou entrar nos detalhes dessa história, porque ela vale um texto próprio, já que também é um outro caso de inusitadas coincidências na minha vida. Mas o fato é que, uma vez aceita nesse grupo, estava ali formada uma turma que seguiria junta através dos anos em milhares de projetos de diversas naturezas musicais, em shows, gravações e muitos grupos filhotes do Maite-Tchu.

Deco tornou-se um grande amigo e uma figura importante em momentos muito decisivos da minha vida. Descobrimos coisas interessantes que margearam nossas vidas desde que nascemos e que poderiam já ter encurtado o caminho para que nos conhecêssemos muitos anos antes. Por exemplo, o fato de termos morado nas mesmas ruas em nossa infância e adolescência, às vezes até no mesmo quarteirão, dividirmos os mesmos amigos e jamais termos nos esbarrado. Quando nos conhecemos, morávamos um na esquina do outro! E hoje moro em seu apartamento em Copacabana, de onde ele se mudou, no exato momento em que eu precisava arrumar um espaço para mim. Providência divina e muita camaradagem de meu amigo querido.


Tudo isso que escrevi foi para contar que precisaram passar quatorze anos de convivência intensa e quase diária para que minha ficha caísse...

Não sei por que, eu, que sou até bem antenada para nomes, datas, ligações familiares, contatos, essas coisas, nunca havia ligado o nome do Deco àquele homem que tantas vezes vi na minha casa e de quem me escondia embaixo da cama de minha mãe com pavor, só de ouvir seu nome, porque associava “Dr. Oswaldo” a algum médico que pudesse inventar de querer me dar uma injeção, coisa que eu temia e odiava com todas as minhas forças, do alto de meus quatro anos de idade!

Dr. Oswaldo Mendonça foi o incansável e carinhoso advogado que cuidou do processo de minha irmã, quando ela foi presa pela ditadura militar nos bicudos anos 70. Foi um nome muito importante na história jurídica brasileira, sempre defendendo causas nobres, ao lado do lendário Sobral Pinto.

Entrou em minha casa através de uma amiga em comum e tornou-se um grande amigo da minha família, de lá saindo apenas quando o processo foi concluído, muito tempo depois. Perderam o contato pelos anos e meus pais nunca conheceram a fundo a sua história pessoal, mas guardaram para o resto da vida a gentileza do homem que ajudou a minha irmã, sem cobrar um centavo por isso, já que o amigo passou à frente do profissional.

Deco nunca teve oportunidade de falar de mim para o seu pai, pois quando nos conhecemos ele havia acabado de falecer. Dr. Oswaldo com certeza se lembraria da menina que fugia dele e daquela família amiga que havia conquistado e ajudado tanto com seu talento e senso de justiça. Minha irmã ouve hoje essa história muito comovida, minha mãe se impressiona e não acredita e eu sigo pensando que o mundo realmente só tem três pessoas e uma esquina.


Março de 2007 – revisado em 05 de junho de 2016

Eu e Deco em São Paulo - 1997

4 comentários:

  1. Fantástico Mari! Gente boa atrai gente boa querida. beijão

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  2. Bela história, né Cynthia? Sou cercada de fatos bonitos assim, a vida é boa pra mim. E o melhor, os amigos de fé nunca se perdem nas malhas do tempo, como você, minha flor.
    Mil beijos e que bom ter você aqui no meu blog!

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  3. É uma bela história mesmo, Marianna. Quando você puder e se não for doloroso, conte mais sobre esse tempo e essa experiência. Que bom que a proximidade os fez contar com os serviços e a generosidade do Dr. Oswaldo. As esquinas têm esse sentido meio metafísico de fazer com que as pessoas se encontrem. Um bar em cada esquina, a esquina do pecado, o Clube da Esquina, as Esquinas do Djavan (com uma linda e comovente letra) e tantas outras. O que seria dos bairros, das cidades, se os quarteirões e suas esquinas não existissem? Se todas as ruas fossem curvas acho que não seríamos os mesmos... Você me fez lembrar da minha infância e das pessoas próximas a mim e à minha casa. Muita saudade de tudo... Beijos,

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  4. Não é doloroso, foram tempos complexos, mas gosto de falar deles. Não lembro de nada, o que sei são as histórias que ouvi e ainda ouço, os intensos relatos de minha irmã, os fragmentos daqui e dali. Mas cresci com essa atmosfera e isso explica muita coisa em minhas escolhas, não é?
    Amo as esquinas, o Clube, a música do Djavan, uma de minhas primeiras bandas se chamava justamente "Esquina do Pecado" :-)))
    Recordar dos bons momentos e das boas histórias é bom demais, Eloy, resolvi escrever pra ajudar a lembrar, pro futuro. Por isso cá estou, nesse espacinho que criei pra contar causos e me divertir. Adoro receber as visitas, os comentários, você bem sabe.
    Beijos e muito obrigada pela participação, sempre!!!

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